MATERNAR LONGE DE CASA...
Continuando com o ciclo de maternidade deste fevereiro de calor e carnaval, este pequeno texto dedicado aos meus amigos Salvador, Ximena, Lolita, Paulina, Cris, Ana, e ás mamães e papães viageira@ e corajos@s, tod@s em cantos diferentes do planeta buscando seu destinho azul e amamentando seus filhos...
Nasci no médio das montanhas
de um frio e pequeno povoado de algum lugar dos Andes na America do sul, nesse
canto azul, perdido nas esquinas do mundo, as pessoas somos silenciosas e
tímidas, nossa cotidianidade acontece no interior da casa, no interior da vida,
gostamos de falar devagarzinho e em tono baixo, acreditamos no poder que tem a
lua para fazer crescer as plantas, mudar o clima e curar, moramos na nostalgia
que se parece com o vento que sopra fundo nas altas cimas, e somos terrivelmente
transcendentais e choronas, pois aquilo que toca o nosso coração é como si
tocasse o universo todo, e o enchesse de um profundo sentimento de saudade,
eterna e sutil.
Usamos as folhas medicinais e comestíveis da
horta como primeira receita para a cura, e os velhos índios transeuntes, nos
ensinaram os secretos de uma botânica milenar única e pouco conhecida, que mora
deitada nos jardins dos nossos lares construídos com poucas janelas ao redor da
comida e do fogo da cozinha.
Saindo das minhas montanhas, viajei
longe para morar na Bahia, no extremo oriental do Brasil impossível, e depois
de um tempo me apaixonei por um gaucho, e por questões do destino vim para
parir ao “Ilah das estrelas” na frente
das águas do rio Guaíba, perto do profundo y resplandecente riso das grandes
famílias contentas e enormes do sul, comedoras incansáveis de carne, faladoras,
festivas e de bom viver.
E
uma das coisas mais difíceis da minha maternidade tem sido compreender as formas
de gestar, parir, maternar e viver em família no Brasil. Sentir com as
entranhas a vida dentro de uma cultura que existe bem longe da minha terra de
origem, é para mim uma escola difícil na que navego aos pouquinhos vendo as
vezes algumas estrelas.
Porem,
este não é um fenômeno isolado, na atualidade centenas de migrantes,tanto
homens quanto mulheres moram em destinos culturais diferentes aos seus, e se
deparam com coragem com a tarefa de criar seus filhotes dentro de sistema de
vida e de trabalho que contem costumes
sociais e lingüísticas distantes.
Só
para observar meu entorno, tenho um amigo
colombiano que mora no Canadá e é pai de
um menininho com sua esposa grega, outra
amiga colombiana que mora em Uruguai como
seu pequeno que nasceu lá, outra, que é Baiana
morando nos Estados Unidos com sua filhotinha e com seu esposo, também americano, uma amiga
chilena casada com um Baiano que mora em Salvador, um par de amigos que moram em Nova Iorque com seu filho que
nasceu em Miami, uma amiga colombiana casada com um Francês que mora em Brasil,
e uma amiga Brasileira que mora em Londres com sua filha brasileira e seu
esposo checo...
O
Brasil me encanta, as pessoas adoram as crianças, sabem cuidar delas, são amorosas
e divertidas, solidarias e alegres. Ganhar um bebe aqui é uma festa e um milagre
que se comparte e divide com todos. Porem tenho saudade do jeito tranqüilo e quase
zen com que nas famílias andinas se recebe uma criança, que permanece amorosamente
resguardada do mundo durante seus primeiros meses para proteger seu campo
energético e para dar a oportunidade á mãe de nacer como mãe na intimidade do
seu mundo interno. No Brasil, a questão da vida em coletivo, e a quebra
cotidiana da fronteira entre privado e publico, dificulta esse desejo
instintivo e mamifero de intimidade e solidão que desde que sou mãe sempre tive...
Do
Brasil me encanta o movimento de parto humanizado, e os novos enfoques da
maternidade, os círculos de mulheres que crescem a cada dia para cuidar com ética
e sentido inteligente a vida dos bebês, Porem tenho saudade de ter minha mãe
perto, de que minha irmã não conheça meu filho, de que meu sobrinho não consiga
brincar com seu primo, de que minhas montanhas não ofereçam o ar que o Ilah poderia
respirar... tenho saudade de me sentar na viera de um riacho e sentir o mundo
passar. Tenho saudade de que ele conheça o sentido do silencio, e o sentido do “despacito”.
Do
Brasil me encanta todo, me enamora a paixão profunda pela vida, a forma
relaxada com que as pessoas respiram o mundo e fazem do dia a dia uma experiência
de jogo e de prazer, porem me bato de frente com o machismo, com a construção
fortemente masculina da sociedade do sul do Pais, e com o papel que o feminino tem dentro dela,
um papel contraditório e difuso, um papel marginal, que tem aberto mão de seu
poder, de seu desejo de morar no profundo da caverna interna, no mistério, na
coragem e na força vital que movimenta o universo e que está no ventre onde a
luz da vida resnace á cada instante.
Tenho
saudade, e dela nasceu escrever desta vez, na lua nova, a lua que permite os renascimentos
internos e o fluir dos rios, e escrevi aos quatro cantos do planeta onde tenho
amigos que maternam e paternam fora de casa para que eles me contassem como fazem
para fazer... De Uruguai e Québec me contestaram e aqui transcrevo suas boas palavras,
e seus carinhos que conheço:
“Es la misma tierra que vio nacer a mi madre y a mi
hijo, es por eso
también mi tierra y sin embargo siempre será
extranjera. Con
artilugios de mi cultura, retazos de canciones,
sabores diversos, pero
sobretodo cobijando a mi pequeño con mis palabras y
acento, hemos ido
construyendo esta maternidad, nuestra propia forma,
individual y
colectiva, natural y social de ser madre y de ser
hijo. Procuro no
olvidar lo que me hizo ser lo que soy, pretendo
regalar a Valentin los
hermosos lugares y personas que transitaron por mi
vida, pero darle la
libertad de encontrar una nueva manera de ser feliz,
la suya, a la que
solo puedo regalarle mi memoria”. (XIMENA (Colômbia), Mãe do Valentin (Uruguai))
Acá (En Quebec) el problema de la lengua es
fundamental, yo creo que preservar la lengua hace parte del aceptar la
diferencia y de explotarla en el propio beneficio. No hay ningún problema en el
número de lenguas que habla un niño y lo mejor es hablarle en la propia para
que la valore cómo suya. Mucha gente acá pierde la lengua y con eso pierde la
cultura y todo lo que esto implica. A mi bebé le hablo en español todo el
tiempo. Este mundo es de muchas lenguas y creo que eso contribuye mucho a
despertar y a considerar la diferencia cómo algo natural. Creo que contribuye a
la adaptación del niño.
La distancia con la pareja es compleja, pero creo que
nos entendemos cómo humanos y que lo más importante es que se aprende mucho. A
pesar de las dificultades, creo que el desafío está en aprender de estas
diferencias y convivir con ellas. De todas formas, aunque algunas veces parece
díficil es un camino que ya comenzamos a caminar y creo que hay que perseverar.
De todas formas, hay que ir a Colombia lo más seguido posible. SALVADOR (Colombia)
pai do Esteban (Canadá)
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